segunda-feira, maio 12, 2008

Era não-polar

Não, não estou me referindo ao aquecimento global, e sim, à uma entrevista de um dos principais analistas de política externa dos Estados Unidos, Richard Haass, na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo.

Nela, Haass expõe o fato de que o mundo caminha para um sistema de não-polaridade, ou seja, não haverá um país dominando o mundo, ou dois, como na época da Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética. E vai além: comenta sobre os atores não-estatis, que também teriam sua parcela na divisão do poder mundial, como o grupo terrorista Al Qaeda, o braço de investimentos de Abu Dhabi (que criou um fundo com o dinheiro do petróleo e está comprando participações em inúmeras empresas ao redor do mundo), grandes corporações, etc. Selecionei algumas partes que achei interessante:

FOLHA - O que levou ao que o sr. chama de Era da Não-Polaridade?
RICHARD N. HAASS - Era inevitável que alguns Estados ficassem mais eficientes e mais produtivos e, conforme isso aconteceu, esses Estados acumularam muita riqueza. Estamos vendo isso acontecer na Índia, na China, no Brasil. Com o tempo, a força econômica acaba sendo traduzida para outras formas de poder e influência. Isso é o primeiro fator. O segundo é a globalização, que dilui e enfraquece o poder de algumas nações, pois, por conta dela há muitos aspectos do mundo que os países não podem controlar. Ela torna possível que os atores não-estatais tenham mais acesso a recursos, o que tanto reflete quanto contribui para a não-polaridade. Por último, os EUA aceleraram o surgimento dessa nova era da história por conta de alguns erros que cometeram em suas políticas interna e externa. A decisão de ir à guerra no Iraque, a falta de compreensão da política energética, o gerenciamento da economia do país, todos esses problemas se juntaram e viraram um grande problema que enfraqueceu o país. Assim, foi a combinação de problemas estruturais, históricos e políticos levou o país e o mundo a essa nova era.

(...)

FOLHA - E o papel do Brasil e, num sentido mais abrangente, dos BRICs (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China) e de outras economias emergentes?
HAASS - Países como o Brasil terão cada vez mais importância nesse novo mundo. Não são mais simplesmente potências regionais, mas globais. O Brasil, por exemplo, será central na hora de resolver o problema das mudanças climáticas e na questão do comércio exterior. Será fundamental nas ações para promover a ordem na América Latina. É o país potencialmente mais importante como parceiro dos EUA na questão de construir instituições regionais e agir em respostas rápidas aos desafios locais.

FOLHA - Há muitas teorias que dizem que os EUA estão em declínio e que a China seria a próxima superpotência. Por que o sr. discorda dessa tese?
HAASS - Os EUA são e vão continuar sendo a economia mais forte do mundo, de maior poderio militar, nesse caso ainda maior do que hoje. O que vai acontecer é que outros países também vão ficar mais poderosos. A posição dos EUA em relação aos outros pode cair, mas não sua força absoluta. Também não acredito numa "troca de guarda" de elenco na mesma peça do mundo unipolar, com a China ou outro país qualquer tomando o lugar dos EUA. Entramos em uma nova era da história, em que nenhum país poderá dominar o resto do mundo. Nem os EUA, nem a China, nem a Índia, nem a Rússia, nem o Japão, nem a Europa, nem o Brasil. O mundo de hoje não será dominado por nenhuma força única.

Não deixa de ser uma visão interessante sobre o que está em curso hoje no mundo, fazendo um pararelo com meu post do dia 06/05, onde comentei sobre o mundo pós- americanismo. No caso, aqui há elementos novos, como os atores não-estatais e também sobre a eqüidade maior do poder das nações.

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