quinta-feira, maio 29, 2008

Livre mercado?

Gente, é impressionante como as opiniões mudam quando os papéis são invertidos. Os Estados Unidos eram até pouco tempo (ou dizem que continuam sendo) o baluarte do livre mercado, do neoliberalismo ou como quer que chamem isso.

Pois bem, três fato curiosos sobre essa questão com relação ao Brasil. O primeiro é a insistência em mantêr barreiras contra o etanol daqui. Como eles não querem perder a tecnologia do combustível verde, acabam evitando a entrada do etanol brasileiro de cana e incentivando o de milho deles, um dos responsáveis pela alta dos preços no mundo atualmente.

Segundo fato, durante a campanha presidencial, a HillaryClinton afirmou, em Dakota do Sul, que era contra a aquisição da Smithfield Foods pela brasileira JBS-Friboi. E disse que, se fosse presidente, aproveitaria as brechas da legislação agrícola para vetar a venda para a empresa brasileira, que depois de comprar a Swift nos Estados Unidos, se transformou na maior exportadora de carne do mundo. Hillary é contra a consolidação porque os Estados Unidos estão perdendo espaço no mercado global de carnes. Desde 2003, as exportações de carne dos EUA despencaram e enquanto disso a brasileira Friboi se transformou na maior empresa de carne bovina do mundo.

O terceiro fato se deu ontem no Wall Street Journal, sobre a possível compra do "ícone americano" Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser, pela Inbev, dizendo que os "políticos americanos devem resistir à invasão em ano eleitoral." Na reportagem, o jornal diz que a empresa é "administrada por brasileiros" e compara os dirigentes com "técnicos de futebol", e que o clima lá na empresa lembrava um vestiário, comentando que os "brasileiros valentões" viraram a mesa e passaram a perna no comando belga da empresa. Haja argumentos!

quarta-feira, maio 28, 2008

Sobre impostos e gargalos

Ontem eu tava vendo algumas manifestações por conta da carga alta de impostos que o Brasil tem. Reinauguração do novo "impostômetro" na Associação Comercial de São Paulo (para colocar a casa do trilhão de reais) e protestos em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, que vendiam produtos sem a incidência de imposto.

Me chamou atenção um exemplo ocorrido no sul: estavam vendendo o carro mais barato do Brasil, um Fiat Uno, por cerca de R$ 14 mil, em vez dos cerca de R$ 21 mil que custaria normalmente, assim como TVs de plasma, gasolina, etc.

Sem entrar no mérito sobre o destino do dinheiro de impostos (e assumindo que sim, o brasileiro paga muito imposto), será que essa carga toda não acaba sendo benéfica de certo modo?

Explico: imaginem se os carros mais baratos estivessem custando R$ 14 mil, a explosão de vendas que isso não iria dar. Aumento de vendas, aumento de preços (já que a indústria não conseguiria acompanhar o aumento da demanda) e alta nos congestionamentos, já que a estrutura das cidades não comporta tanto carro e o transporte público não é lá essas coisas.

A propensão dos brasileiros ao consumo é muito alta, na esteira do desejo de refletir aqui os mesmos padrões de consumo de países desenvolvidos, cuja renda per capita é superior à nossa (e por conseguinte, o mercado de falsificações aqui é bem rentável). Portanto, será que os impostos não estão brecando um maior consumo, frente à uma oferta que cresce mais lentamente, e assim evita inflação?

Lembrem-se que nos anos 80, o Cruzado jogou milhões de brasileiros no mercado de consumo e deu no que deu: falta de alimentos e inflação descontrolada. O Plano Real deu certo porque juntamente com o poder de compra, no primeiro momento o governo pareou o real com o dólar e assim nossa demanda desenfreada foi suprida com importações também, o que arrebentou nossa conta corrente, e posteriormente com a liberação cambial em 99, torrou quase todas as nossas reservas cambiais.

Portanto, as coisas precisam ser feitas com cuidado, lentamente, evitando descompasso entre a fúria gastadora dos brasileiros e a oferta para suprí-la.

quarta-feira, maio 21, 2008

quinta-feira, maio 15, 2008

Sobre etanol e inflação

Etanol, etanol e etanol. O mundo parece ter acordado pra uma questão que faz parte da nossa realidade, no mínimo, há trinta anos. Desde o começo da crise alimentar e da comoção com o aquecimento global, não passa um dia sequer sem que não haja um artigo em algum jornal importante do mundo que fale sobre o etanol brasileiro e o programa de bicombustível daqui.

Ontem foi lançado um relatório do Conselho para Relações Exteriores de Nova York, dizendo sobre o novo momento da América Latina e que terminou a era hegemonica dos Estados Unidos por aqui. Além disso, cita a necessidade de cooperação mútua entre os países, em especial com o Brasil e seu etanol. Este também foi um dos principais assuntos da visita da chanceler alemã Angela Merkel ao país, a primeira visita sua à América Latina, onde posteriormente participará da 5ª Cúpula União Européia-América Latina em Lima, no Peru. A saída da ministra Marina Silva (que fará muita falta) deve produzir mais notícias sobre isso, especialmente por ter sido dura nas suas convicções sobre a compatibilidade entre crescimento econômico e proteção do meio ambiente. Qualquer motivo é motivo pros europeus/americanos barrarem a entrada do etanol (e outros produtos agrícolas) em seus países e a aparente fragilidade do Ministério pode se reverter em ônus para o governo.

Em outras notícias, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, não estava brincando quando disse que fará de tudo pra inflação não sair da meta. Além de aumentar os juros dia 16 de abril e reduzir o imposto dos combustíveis para que não houvesse repasse aos consumidores, dessa vez foi anunciado pelo governo a isenção da cobrança de Pis/Cofins até o final do ano na comercialização de trigo, de farinha de trigo e do pão francês, procurando atenuar as elevações de preços desses produtos que têm pressionado a inflação. Se temos impostos acachapantes, que se reduza quando há pressão de preços.

A boa notícia do dia, no entanto, veio da FAO, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, que segundo seu índice de preços de inflação mundial dos alimentos, estava ensaiando uma estabilização. Em abril, o índice caiu depois de 15 meses em alta, especialmente por conta de queda dos preços do arroz, trigo e laticínios.

terça-feira, maio 13, 2008

BRIC torna-se realidade

E finalmente os BRICs, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China vai sair do papel e, quem sabe, se tornar um grupo político, apesar da expressão ter sido cunhada, pela primeira vez, por um agente privado, um banco de investimentos (Goldman Sachs).

Essa semana, em Moscou, haverá um encontro de chanceleres dos quatro países, exclusivamente com foco em economia, para posteriormente, iniciarem um diálogo mais estreito e estabelecerem formas de cooperação em áreas como energia, meio ambiente e comércio.

É esperar pra ver se haverá algum resultado prático e o grau de repercussão da imprensa mundial, especialmente a americana e européia.

segunda-feira, maio 12, 2008

Era não-polar

Não, não estou me referindo ao aquecimento global, e sim, à uma entrevista de um dos principais analistas de política externa dos Estados Unidos, Richard Haass, na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo.

Nela, Haass expõe o fato de que o mundo caminha para um sistema de não-polaridade, ou seja, não haverá um país dominando o mundo, ou dois, como na época da Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética. E vai além: comenta sobre os atores não-estatis, que também teriam sua parcela na divisão do poder mundial, como o grupo terrorista Al Qaeda, o braço de investimentos de Abu Dhabi (que criou um fundo com o dinheiro do petróleo e está comprando participações em inúmeras empresas ao redor do mundo), grandes corporações, etc. Selecionei algumas partes que achei interessante:

FOLHA - O que levou ao que o sr. chama de Era da Não-Polaridade?
RICHARD N. HAASS - Era inevitável que alguns Estados ficassem mais eficientes e mais produtivos e, conforme isso aconteceu, esses Estados acumularam muita riqueza. Estamos vendo isso acontecer na Índia, na China, no Brasil. Com o tempo, a força econômica acaba sendo traduzida para outras formas de poder e influência. Isso é o primeiro fator. O segundo é a globalização, que dilui e enfraquece o poder de algumas nações, pois, por conta dela há muitos aspectos do mundo que os países não podem controlar. Ela torna possível que os atores não-estatais tenham mais acesso a recursos, o que tanto reflete quanto contribui para a não-polaridade. Por último, os EUA aceleraram o surgimento dessa nova era da história por conta de alguns erros que cometeram em suas políticas interna e externa. A decisão de ir à guerra no Iraque, a falta de compreensão da política energética, o gerenciamento da economia do país, todos esses problemas se juntaram e viraram um grande problema que enfraqueceu o país. Assim, foi a combinação de problemas estruturais, históricos e políticos levou o país e o mundo a essa nova era.

(...)

FOLHA - E o papel do Brasil e, num sentido mais abrangente, dos BRICs (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China) e de outras economias emergentes?
HAASS - Países como o Brasil terão cada vez mais importância nesse novo mundo. Não são mais simplesmente potências regionais, mas globais. O Brasil, por exemplo, será central na hora de resolver o problema das mudanças climáticas e na questão do comércio exterior. Será fundamental nas ações para promover a ordem na América Latina. É o país potencialmente mais importante como parceiro dos EUA na questão de construir instituições regionais e agir em respostas rápidas aos desafios locais.

FOLHA - Há muitas teorias que dizem que os EUA estão em declínio e que a China seria a próxima superpotência. Por que o sr. discorda dessa tese?
HAASS - Os EUA são e vão continuar sendo a economia mais forte do mundo, de maior poderio militar, nesse caso ainda maior do que hoje. O que vai acontecer é que outros países também vão ficar mais poderosos. A posição dos EUA em relação aos outros pode cair, mas não sua força absoluta. Também não acredito numa "troca de guarda" de elenco na mesma peça do mundo unipolar, com a China ou outro país qualquer tomando o lugar dos EUA. Entramos em uma nova era da história, em que nenhum país poderá dominar o resto do mundo. Nem os EUA, nem a China, nem a Índia, nem a Rússia, nem o Japão, nem a Europa, nem o Brasil. O mundo de hoje não será dominado por nenhuma força única.

Não deixa de ser uma visão interessante sobre o que está em curso hoje no mundo, fazendo um pararelo com meu post do dia 06/05, onde comentei sobre o mundo pós- americanismo. No caso, aqui há elementos novos, como os atores não-estatais e também sobre a eqüidade maior do poder das nações.

sexta-feira, maio 09, 2008

Alimentos, alimentos

Hoje o IBGE divulgou a inflação de abril, e como era esperado, o índice acabou acelerando na passagem de março: de 0,48% para 0,55%. Culpa principalmente dos alimentos, que responderam por 0,28% do índice, ou seja, praticamente a metade.

De março para abril, vários produtos apresentaram alta: pão francês (+7,33%), farinha (+6,80%), pão doce (+3,02%), macarrão (+2,34%), pão de forma (+1,12%), cebola (+15,87%), leite pasteurizado (+3,56%), óleo de soja (+3,18%), arroz (+1,96%), carnes (+1,35%), entre outros. Tendência que deve permanecer ainda por algum tempo. Por outro lado, o feijão carioca levou um tombo de quase 11,0% no preço, demonstrando que quando há normalidade de safra e ajuste com a demanda, os preços tendem a se acomodar.

O momento é de sangue frio, porque a inflação dos alimentos é um fenômeno mundial. Fora que o petróleo também está contribuindo bastante, como já comentei aqui e não pára de subir. A notícia boa de abril é que os produtos não-alimentícios apresentaram variação de 0,34%, um pouco abaixo do resultado de março (0,36%), ou seja, comportado. Mesmo assim, o acumulado em 12 meses já fez com que o índice de inflação passasse dos 5,0%, o que não víamos há algum tempo. E dá-lhe Brasil colhendo safra recorde de grãos.

quinta-feira, maio 08, 2008

Indústria crescendo qualitativamente

Em meio às previsões catastróficas de aumento da inflação por conta não só dos alimentos, mas também da energia e dos minerais, junto com a demanda interna aquecida do país, a divulgação do resultado da indústria, antes de ontem, trouxe um pequeno alívio pra dinâmica do crescimento do setor.

No primeiro trimestre, a produção industrial teve aumento de 6,3%, número nem um pouco desprezível. No acumulado em 12 meses, a indústria obteve expansão de 6,6%. Mais importante que a magnitude da alta é analisarmos que o setor de bens de capital está respondendo positivamente ao momento que o país passa.

Bens de capital é o setor que aumenta a capacidade produtiva do país. Máquinas produzindo novas máquinas para expansão de fábricas, por exemplo. Apesar do peso maior da indústria ser do setor intermediário, é em bens de capital que mora a gênese da ampliação da oferta que mais tarde impede aumento de preços por conta do aumento da demanda.

O setor cresceu 17,1% no primeiro trimestre e quase 20,0% no acumulado em 12 meses, números compatíveis com a época do Milagre Econômico, apesar de estarmos falando em épocas distintas. Abaixo, eu coloquei um gráfico das expansões em 12 meses dos segmentos que fazem parte da indústria:

terça-feira, maio 06, 2008

The Rise of the Rest

Eu ainda não comentei nada sobre os BRICs aqui. Então vamos à eles. BRIC é uma expressão cunhada pela primeira vez através do Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimento do mundo, para denominar os principais países emergentes do mundo. A expressão faz uma analogia à brick, tijolo, como se estivesse sendo construída uma espécie de nova ordem mundial. Os países são, por conta da primeira letra do nome: Brasil, Rússia, Índia e China.

Estima-se que por volta de 2050, os BRICs já seriam as maiores potências econômicas do mundo, ultrapassando assim a União Européia e os Estados Unidos. A força econômica e a população dos quatro países somadas justificariam isso, já que o ganho de escala desses países é gigantesco.

Entrei nesse detalhe porque a Newsweek abre a semana com uma reportagem interessante sobre o mundo pós-americano, com o título The Rise of the Rest (a ascensão do resto), sendo por resto entendendo-se como os BRICs, os "verdadeiros gigantes". A reportagem está aberta no site da revista.

É estranho pensar que o Brasil, sempre renegado à um rodapé da história, pelo menos até meados do século passado, de repente está virando um ator global de peso, especialmente nas questões agrícolas. E pra massagear o ego ainda mais, ontem na campanha presidencial americana, Hillary Clinton citou o Brasil como exemplo a ser seguido de país que conquistou sua auto-suficiência energética. O futuro está chegando?

segunda-feira, maio 05, 2008

Mensagem do dia

Da série "se arrependimento matasse":

Eu tinha uma visão atrasada sobre a economia brasileira porque os países latinos-americanos, de maneira geral, têm uma fama ruim em relação à estabilidade de suas moedas. Mas o mundo muda e o Brasil mudou.

WARREN BUFFETT, homem mais rico do mundo pela Forbes

sexta-feira, maio 02, 2008

Combustíveis aumentam

Eu acho muito hilário quando há aumento dos combustíveis e os repórteres vão entrevistar pessoas na rua. Os próprios repórteres fazem cara de cocô quando dão a notícia e os entrevistados falam coisas como: "é, sempre nós que pagamos", etc.

O negócio é que sim, teria que ter aumento de qualquer maneira, e nem teríamos o direito de ficar reclamando. O último reajuste nos combustíveis tinha sido em setembro de 2005 e o barril do petróleo estava com um preço bem abaixo do que está hoje. A apreciação do Real durante esse tempo conseguiu aliviar um pouco a escalada do barril lá fora, mas é fato que os preços aqui dentro estavam bastante defasados.

O impacto na inflação é importante, porque praticamente toda a cadeia têm os combustíveis como parte dos custos, mas mesmo assim, não havia muito o que se fazer. O máximo que o governo pôde foi diminuir o imposto da CIDE que cobra na gasolina, para tentar anular os repasses ao consumidor.

No mais, a Petrobras estava com dificuldades de ganho por conta dessa defasagem. E a empresa não se pode dar ao luxo disso, porque afinal, é uma companhia com acionistas e que tem que dar lucro e se capitalizar para os desafios que estão pra vir, como por exemplo explorar o petróleo e o gás em águas ultra profundas dos campos de Tupi, Júpiter e Carioca.

Portanto, acho importante ficar bem explicado pra população dos por quês em vez de acharem que sempre são os coitadinhos que pagam as contas de tudo.