terça-feira, julho 29, 2008

Doha a quem doer

O ano de 2001 foi bem marcante pra história de um modo geral. Muitos o consideram marco da entrada ao século 21, assim como o final do século 20 seria a queda do Muro de Berlim. Marco por conta dos atentados de 11 de setembro: pela primeira vez, o império dominante era atacado dentro de seu próprio território e o que é pior, por um inimigo invisível, dando início à paranóia coletiva que o terrorismo traria posteriormente. Mas o ano de 2001 também ficou marcado pelas negociações sobre comércio, a chamada Rodada de Doha. Realizada dois meses depois dos atentados, talvez por obra da auto indulgência, nunca os países desenvolvidos haviam se dispostos a tanto se comprometido a tanto em termos de liberalização do próprio mercado até então.

A intenção declarada da rodada era tornar as regras de comércio mais livres para os países em desenvolvimento, incluindo as vertentes agrícolas e industrais/serviços na pauta. O problema é que as reuniões ocorridas depois acabaram dando em nada.

Hoje, foi anunciado o fracasso de mais uma dessas reuniões para se chegar a um consenso. Países como China, Índia e Brasil querem dos países desenvolvidos acesso maior aos seus mercados agrícolas. A Europa gasta bilhões por ano em termos de subsídios para seus agricultores, o que acaba gerando distorções no comércio mundial, assim como os Estados Unidos. Por outro lado, os desenvolvidos exigem maior abertura dos em desenvolvimento na questão industrial.

Hoje, pelas regras da Organização Mundial do Comércio, o país pode aplicar no máximo 35% de imposto de importação à produtos industriais, a fim de proteger sua indústria. O Brasil usa a alíquota máxima, por exemplo, para a importação de carros, desde que fora de países que o país tenha algum tipo de acordo de livre comércio, como é o caso do México, por exemplo.

Portanto, sem abrir mão de alguns pontos, é improvável que a Rodada de Doha tenha algum sucesso. Lá se vão sete anos sem um acordo definitivo fechado.

Os grupinhos de negociação da Rodada de Doha:

G-10
Este grupo reúne grandes produtores agrícolas que impõem elevadíssimas tarifas alfandegárias a produtos considerados vitais para seus agricultores, como o Japão (778% a suas importações de arroz). É o grupo dos ultra protecionistas. Rejeita a proposta que determina máxima de 100% para estas tarifas, como pede outros países.
Membros: Coréia do Sul, Ilhas Maurício, Islândia, Japão, Liechtenstein, Noruega, Suíça, Taiwan, Bulgária e Israel.

Grupo de Cairns (17 membros)
Este grupo reúne grandes exportadores agrícolas, industrializados ou em desenvolvimento, todos contrários aos subsídios e aos incentivos da União Européia e dos Estados Unidos a seus agricultores.
Membros: África do Sul, Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Indonésia, Malásia, Nova Zelândia, Paraguai, Filipinas, Tailândia, Uruguai.

G-20 (21 membros)
Este grupo inclui países emergentes, liderados pelo Brasil e pela Índia, que são contra as políticas agrícolas dos países ricos. Porém, está dividido sobre os produtos industriais, entre exportadores livre-cambistas (como Brasil) e países mais protecionistas, como a Índia.
Membros: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cuba, Egito, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Nigéria, Paquistão, Paraguai, Filipinas, Tailândia, Tanzânia, Uruguai, Venezuela, Zimbábue.

PMA (32 membros)
O grupo de Países Menos Avançados da OMC não devem, em princípio, fazer concessões nas negociações, mas temem ficar marginalizados pelo desenvolvimento de nações como a China e o Brasil.
Membros: Angola, Bangladesh, Benin, Burkina Faso, Burundi, República Centro-africana, Chade, Djibuti, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau, Haiti, Ilhas Salomão, Lesotho, Madagascar, Malawi, Maldivas, Mali, Mauritânia, Moçambique, Mianmar, Níger, República Democrática do Congo, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia.

G-33 (42 membros)
Este grupo é integrado por países em desenvolvimento que defendem o conceito de "produtos especiais", importante para suas agriculturas, e pelos que pedem a manutenção de um nível maior de proteção.
Membros: China, Congo, Coréia do Sul, Costa do Marfim, Cuba, Haiti, Honduras, Índia, Jamaica, Panamá, Peru, República Dominicana, Trinidad e Tobago, Turquia, Venezuela.

ACP (56 membros)
O grupo África-Caribe-Pacífico reúne a antigas colônias que querem conservar um acesso preferencial ao mercado europeu e acabam sendo contrários a certas posições do G-20.
Membros: África do Sul, Angola, Antígua e Barbados, Bermuda, Belize, Benin, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, Costa do Marfim, Cuba, RD Congo, Djibuti, Dominica, República Dominicana, Fiji, Gabão, Gâmbia, Gana, Granada, Guiné, Guiné-Bissau, Guiana, Haiti, Jamaica, Quênia, Lesoto, Madagascar, Malawi, Mali, Mauritânia, Ilha Maurício, Moçambique, Namíbia, Níger, Nigéria, Uganda, Papua Nova Guiné, Ruanda, São Kitts e Névis, Santa Lúcia, St Vincent e Granadinas, Senegal, Serra Leoa, Ilhas Salomão, Suriname, Suazilândia, Tanzânia, Togo, Trinidad e Tobago, Zâmbia, Zimbábue.

G-90
Este grupo é uma estrutura mais informal, integrada pelos países ACP, as nações da União Africana e os Países Menos Avançados (PMA).

terça-feira, julho 08, 2008

Sobre G8 e demais clubinhos


Essa semana ocorre a reunião anual do G8, os "sete países mais ricos do mundo mais a Rússia". Cada vez mais em lugares isolados para evitar manifestações, dessa vez estão na ilha mais ao norte do Japão, Hokkaido. Na foto acima estão plantando árvores: Angela Merkel (chanceler da Alemanha); George W. Bush (presidente dos Estados Unidos); Yasuo Fukuda (primeiro-ministro do Japão); Nocolás Sarkozy (presidente da França) e Medvedev (presidente da Rússia).

A questão é: será que esses países ainda representam o planeta todo numa discussão sobre preços dos alimentos, aquecimento global e preço do petróleo? Fazem parte do G8: Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Itália, Canadá, Reino Unido e a Rússia. Em termos de PIB, esses países representam 58% do planeta, fatia que vem diminuindo nos últimos anos. Mas será que uma reunião dessas sem a participação de países como China, Índia e Brasil, grandes países em termos de território, que juntos detém quase metade da população do planeta e emitem quantidades consideráveis de carbono é justa? Ou mesmo sem a participação de algum país árabe ou africano, para darem seus pareceres sobre o preço do petróleo e dos alimentos, é factível?

Nos últimos anos, algum desses países, como Brasil, China e Índia participam dessa reunião, mas apenas como convidados e numa reunião secundária. O presidente da França já se posicionou favorável ao aumento do grupo, mas encontra resistências nos líderes da Itália e dos Estados Unidos.

É um paradoxo interessante. O Conselho de Segurança da ONU, formado por 5 países com poder de veto, ou seja, os mais importantes do mundo (basicamente os vencedores da Segunda Guerra), são: Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China. A China não está no G8, assim como o Japão e Alemanha, segundo e quarto PIBs do mundo respectivamente, não estão no Conselho de Segurança como membro permanente. A China veta o Japão na ONU, o Japão veta a China no G8, já que são inimigos históricos. A Rússia pertence a ambos os grupos, mas não é mais rica que Brasil e China, por exemplo. Outros argumentam que o G8 é um grupo democrático, por isso não querem que a China entre, mas a Rússia não é um exemplo de democracia. O Canadá, não é mais rico que a China e se formos levar em conta o PIB per capita, muitos países da Europa ultrapassam o Canadá no quesito. Pode-se levar em conta também o poderio militar, para explicar o Rússia em ambos os grupos ainda hoje, mas a China nuclear tem o maior exército do mundo e o Japão e Canadá não tem lá uma força militar relevante.

E assim criam-se outros grupos por fora para forçar uma reforma nos clubinhos: o G4 é formado por Japão, Alemanha, Brasil e Índia, e almejam uma vaga permanente na ONU; o G5 é formado por China, Índia, Brasil, África do Sul e México, e querem transformar o G8 em G13, e assim participarem mais ativamente das reuniões anuais do grupo.

O fato é que as instituições hoje precisam de reformulações para acompanhar as mudanças que aconteceram no mundo nas últimas décadas. Quem tem o poder não quer dividir com mais pessoas e demora até se convencer que o jogo político e econômico não é imutável. Ou parafraseando Heráclito, nada é permanente, exceto a mudança.

quarta-feira, julho 02, 2008

CDB lidera primeiro semestre

Fechando alguns números do primeiro semestre como balança comercial e câmbio, tivemos o ranking dos maiores rendimentos de aplicações no primeiro semestre. O campeão foi o CDB ou Certificado de Depósito Bancário, com aumento de 5,44%. O restante ficou:

-Certificado de Depósito Interbancário (CDI) -> 5,40%
-Poupança -> 3,50%
-Ibovespa -> 1,77%
-Ouro -> -2,07%
-Euro -> -3,92%
-Dólar -> -10,13%

Quem diria que a velha e boa poupança ficou na frente da bolsa, hein? E a persistência da desvalorização do Dólar continuou, o que traz cada vez mais preocupações com a nossa conta corrente. No mais, o começo do ano foi bastante penoso para as bolsas, e junho também não foi bom, mesmo com o grau de investimento em abril/maio das agências. A crise americana ainda é uma ameaça batendo às portas e a inflação dos alimentos e o petróleo estão em momento de alta, o que leva à certas incertezas.

O que se vê no horizonte pra curto prazo é a continuação do aumento dos juros. O Brasil ainda aumentará seu superávit primário, o que, juntamente com crescimento dos juros, pode levar o país à desaceleração mais forte em 2009.