sábado, outubro 11, 2008

O sobe e desce do Dólar

Em épocas de crise financeira como essa, é difícil arrumar algum assunto pra escrever aqui que não seja sobre isso. Ainda mais uma crise de proporções tão devastadoras como está sendo essa. Até o fim dessa semana, as empresas americanas já terão perdido US$ 7 trilhões em valor de mercado (quase 6 vezes o PIB brasileiro), e as empresas brasileiras, outros R$ 1 trilhão. São números tão grandes que são impossíveis de imaginarmos fisicamente.

A velocidade com que o dinheiro circula hoje no planeta e mais o processo de alavancagem faz surgir fortunas e sumir com elas numa piscar de olhos. Mas o que chama mais atenção desses dias é a escalada do Dólar no mundo todo, especialmente no Brasil.

A moeda americana terminou a semana em cerca de R$ 1,31. Até pouco tempo, ela testava o patamar de R$ 1,50 e se comentava sobre um tal fundo soberano para ser gestor da grana que estava sobrando.

O problema é que em crises, as pessoas perdem referências e bate o desespero. Assim, como ninguém sabe o que acontece, fogem pra lugares mais seguros. E os Estados Unidos continuam sendo o lugar mais seguro, por ser a maior economia do mundo e em último caso, se precisar, poder imprimir dinheiro, no caso, o Dólar.

Por isso, os agentes correm pra moeda americana, o que acaba desvalorizando as outras moedas, ou seja, não é um fenômeno apenas aqui. A questão é que pelo que estamos vendo, o Dólar não se sustentaria nesse patamar por muito tempo, por alguns motivos: o fluxo de Dólar em investimento continua entrando no país, ou seja, não há uma fuga gigante de dinheiro do Brasil; o Banco Central tem dinheiro suficiente para conter uma alta maior por conta das reservas; o Dólar mais alto breca as importações momentaneamente, o que acaba beneficiando nossa balança comercial (embora o efeito não seja tão imediato). É por isso que há a perspectiva da moeda americana cair nas próximas semanas. E o Dólar desvalorizado não é tão ruim assim: favorece as vendas externas do país lá fora e acabou por fazer o Banco Central ter um lucro de mais de US$ 6 bilhões já que o país zerou a dívida externa e passou a ser credor externo.

E por último, uma questão importante é que o sistema bancário do Brasil não está fragilizado como os estrangeiros. Aqui as regras são mais rígidas e o sistema de crédito imobiliário aqui é diferente dos Estados Unidos. Isso dá uma certa tranquilidade. É claro que vamos ser afetados por conta da restrição de crédito internacional e a queda da atividade econômica nos países, mas temos condição de mostrar a força do nosso mercado interno nesse momento, que desde 2003 tirou 20 milhões de pessoas da pobreza.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço

John Maynard Keynes deve estar rindo, onde quer que esteja. Keynes foi um dos economistas mais importantes da história. Foi ele quem defendia a idéia da intervenção do Estado na economia, ou seja, idéia totalmente contrária daquela que os Estados Unidos e seus formuladores de política sempre defenderam. As receitas neoliberais especialmente dos anos 90, para países em desenvolvimento, sempre foram baseadas em preceitos opostos ao que Keynes defendia.

Milton Friedman, por sua vez, foi um dos baluartes do liberalismo. Foi o maior advogado do neoliberalismo econômico e da subseqüente redução das funções do Estado frente ao domínio do mercado livre. Porém, Friedman disse algo sábio em 1965: "diante de crises, somos todos keynesianos".

Não deixa de ser emblemático. Com a crise gigantesca nos Estados Unidos que culminou essa semana com a quebra do quarto maior banco de lá, o governo foi obrigado a intervir. Gastou nada mais do que US$ 200 bilhões de dinheiro público salvando dois bancos hipotecários e hoje veio a notícia de que aportou mais US$ 85 bilhões na AIG, maior seguradora americana, e estatizou-a. Ou seja, mais uma vez dinheiro público usado para salvar empresa privada.

Independente de qualquer outra coisa, quando um Hugo Chavez ou afins realiza uma estatização, é um carnaval total em cima. Por outro lado, todos se ajoelham diante da ajuda estatal na terra do tio Sam, terra do suposto livre mercado. Dias irônicos esses, cujos desdobramentos parecem que demorarão a terminar tão cedo.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Da série: como abortar o crescimento do país

Dia 10/09

De manhã:
PIB brasileiro cresce 6,1% no segundo trimestre em comparação com o mesmo trimestre do ano passado.

De noite:
Banco Central aumento o juros em 0,75 p.p. passando a 13,75% a.a., quarta alta seguida.

E assim, o país vai crescendo de teimoso.

sexta-feira, agosto 29, 2008

A cara de pau do presidente do Banco Central

Hoje saiu uma declaração na mídia do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, dizendo que o aumento dos juros já surte efeito.

Vejamos as palavras: "A boa notícia é que o processo está funcionando e já estamos vendo os sinais de que a inflação está convergindo para o centro da meta", depois de aumentar os juros por conta de uma suposta demanda doméstica aquecida e choque das commodities sobre a inflação.

É um mentiroso. Primeiro porque quem acompanha o mercado sabe que a subida da SELIC só tem efeito prático na economia depois de, no mínimo, 8 meses. Segundo, é que o referido presidente insiste em usar a "demanda doméstica aquecida" pra aumentar os juros.

Ora, não há sinais de descompasso entre oferta e demanda, inclusive os indicadores da FGV e da FIESP de capacidade ociosa estão passando por formulações para provar que ainda existe um nível bastante importante de produção até atingirmos um limite crítico. Outra coisa, aumento de juros não faz a população comer menos: as vendas de varejo e supermercados no país tiveram aumento de dois dígitos até esse momento, o que faz desabar por terra qualquer tentativa de convencimento de que aumentar juros vai frear o consumo nesse sentido.

A inflação deu uma trégua porque o petróleo voltou a cair, por conta da sensação mundial de menor demanda do produto com a desaceleração nos EUA e resto do mundo. Além disso, os alimentos também tiveram queda e é por isso que nossos índices de preços estão voltando a se comportar. Portanto, Meirelles, não adianta vir falar que foi o causador da volta da inflação ao centro da meta porque não foi. Não haveria aumento de juros internos capaz de freiar uma inflação mundial advinda de fatores tão díspares como efeito climático, aumento do consumo chinês e choque do petróleo.

terça-feira, agosto 26, 2008

Olimpíadas 2008

Estive ausente bastante tempo aqui do blog por causa de 1) falta de vontade de comentar certas coisas e 2) Olimpíadas. Mas falemos da última.

A Olimpíada é uma ótima oportunidade de vermos o quanto o mundo pode ser ao mesmo tempo fantástico e desigual. É o espelho da nossa humanidade, ali, num mesmo lugar, competindo durante duas semanas.

É uma festa diretamente ligada ao espírito nacionalista de quem a promove e serve como uma espécie de trampolim ou legitimidade para nações que almejam algum respeito mundial. Afinal, no jargão, a cidade sede vira uma espécie de "capital do mundo".

É por isso que países emergentes se estapeiam para conseguir promovê-la, incluindo Coréia do Sul em 1988 e China agora, 20 anos depois. O Brasil não fez tão feio dessa vez, conquistou 15 medalhas, sendo 3 de ouro em esportes que nunca havíamos chegado a tal pódio. De todos os esportes que realmente tínhamos chances, acabamos trazendo medalhas praticamente em todos eles.

Mas voltado à questão da sede, será que o país precisa disso? Se for pra tentar conquistar algum respeito, sim. Além disso, uma festa dessa mexe com o povo todo, incluindo seu orgulho. O povo daqui, pelo que eu andei lendo, além de não confiar na capacidade do Brasil sediar um evento desse, não estaria animado para tal. Porém, o Pan não foi um fracasso, embora em termos de escala, estejamos bem abaixo de uma Olimpíada.

O fato é que das cidades finalistas, Madri, Tóquio, Chicago e Rio de Janeiro, acredito que Chicago seja a eleita. Não só por conta de uma espécie de rodízio de continentes (Ásia em 2008, Europa em 2012), mas também porque eu ainda acho que não é a vez do Rio. Veremos dia 2 de outubro de 2009, quando for divulgada a cidade.

terça-feira, julho 29, 2008

Doha a quem doer

O ano de 2001 foi bem marcante pra história de um modo geral. Muitos o consideram marco da entrada ao século 21, assim como o final do século 20 seria a queda do Muro de Berlim. Marco por conta dos atentados de 11 de setembro: pela primeira vez, o império dominante era atacado dentro de seu próprio território e o que é pior, por um inimigo invisível, dando início à paranóia coletiva que o terrorismo traria posteriormente. Mas o ano de 2001 também ficou marcado pelas negociações sobre comércio, a chamada Rodada de Doha. Realizada dois meses depois dos atentados, talvez por obra da auto indulgência, nunca os países desenvolvidos haviam se dispostos a tanto se comprometido a tanto em termos de liberalização do próprio mercado até então.

A intenção declarada da rodada era tornar as regras de comércio mais livres para os países em desenvolvimento, incluindo as vertentes agrícolas e industrais/serviços na pauta. O problema é que as reuniões ocorridas depois acabaram dando em nada.

Hoje, foi anunciado o fracasso de mais uma dessas reuniões para se chegar a um consenso. Países como China, Índia e Brasil querem dos países desenvolvidos acesso maior aos seus mercados agrícolas. A Europa gasta bilhões por ano em termos de subsídios para seus agricultores, o que acaba gerando distorções no comércio mundial, assim como os Estados Unidos. Por outro lado, os desenvolvidos exigem maior abertura dos em desenvolvimento na questão industrial.

Hoje, pelas regras da Organização Mundial do Comércio, o país pode aplicar no máximo 35% de imposto de importação à produtos industriais, a fim de proteger sua indústria. O Brasil usa a alíquota máxima, por exemplo, para a importação de carros, desde que fora de países que o país tenha algum tipo de acordo de livre comércio, como é o caso do México, por exemplo.

Portanto, sem abrir mão de alguns pontos, é improvável que a Rodada de Doha tenha algum sucesso. Lá se vão sete anos sem um acordo definitivo fechado.

Os grupinhos de negociação da Rodada de Doha:

G-10
Este grupo reúne grandes produtores agrícolas que impõem elevadíssimas tarifas alfandegárias a produtos considerados vitais para seus agricultores, como o Japão (778% a suas importações de arroz). É o grupo dos ultra protecionistas. Rejeita a proposta que determina máxima de 100% para estas tarifas, como pede outros países.
Membros: Coréia do Sul, Ilhas Maurício, Islândia, Japão, Liechtenstein, Noruega, Suíça, Taiwan, Bulgária e Israel.

Grupo de Cairns (17 membros)
Este grupo reúne grandes exportadores agrícolas, industrializados ou em desenvolvimento, todos contrários aos subsídios e aos incentivos da União Européia e dos Estados Unidos a seus agricultores.
Membros: África do Sul, Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Indonésia, Malásia, Nova Zelândia, Paraguai, Filipinas, Tailândia, Uruguai.

G-20 (21 membros)
Este grupo inclui países emergentes, liderados pelo Brasil e pela Índia, que são contra as políticas agrícolas dos países ricos. Porém, está dividido sobre os produtos industriais, entre exportadores livre-cambistas (como Brasil) e países mais protecionistas, como a Índia.
Membros: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cuba, Egito, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Nigéria, Paquistão, Paraguai, Filipinas, Tailândia, Tanzânia, Uruguai, Venezuela, Zimbábue.

PMA (32 membros)
O grupo de Países Menos Avançados da OMC não devem, em princípio, fazer concessões nas negociações, mas temem ficar marginalizados pelo desenvolvimento de nações como a China e o Brasil.
Membros: Angola, Bangladesh, Benin, Burkina Faso, Burundi, República Centro-africana, Chade, Djibuti, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau, Haiti, Ilhas Salomão, Lesotho, Madagascar, Malawi, Maldivas, Mali, Mauritânia, Moçambique, Mianmar, Níger, República Democrática do Congo, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia.

G-33 (42 membros)
Este grupo é integrado por países em desenvolvimento que defendem o conceito de "produtos especiais", importante para suas agriculturas, e pelos que pedem a manutenção de um nível maior de proteção.
Membros: China, Congo, Coréia do Sul, Costa do Marfim, Cuba, Haiti, Honduras, Índia, Jamaica, Panamá, Peru, República Dominicana, Trinidad e Tobago, Turquia, Venezuela.

ACP (56 membros)
O grupo África-Caribe-Pacífico reúne a antigas colônias que querem conservar um acesso preferencial ao mercado europeu e acabam sendo contrários a certas posições do G-20.
Membros: África do Sul, Angola, Antígua e Barbados, Bermuda, Belize, Benin, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, Costa do Marfim, Cuba, RD Congo, Djibuti, Dominica, República Dominicana, Fiji, Gabão, Gâmbia, Gana, Granada, Guiné, Guiné-Bissau, Guiana, Haiti, Jamaica, Quênia, Lesoto, Madagascar, Malawi, Mali, Mauritânia, Ilha Maurício, Moçambique, Namíbia, Níger, Nigéria, Uganda, Papua Nova Guiné, Ruanda, São Kitts e Névis, Santa Lúcia, St Vincent e Granadinas, Senegal, Serra Leoa, Ilhas Salomão, Suriname, Suazilândia, Tanzânia, Togo, Trinidad e Tobago, Zâmbia, Zimbábue.

G-90
Este grupo é uma estrutura mais informal, integrada pelos países ACP, as nações da União Africana e os Países Menos Avançados (PMA).

terça-feira, julho 08, 2008

Sobre G8 e demais clubinhos


Essa semana ocorre a reunião anual do G8, os "sete países mais ricos do mundo mais a Rússia". Cada vez mais em lugares isolados para evitar manifestações, dessa vez estão na ilha mais ao norte do Japão, Hokkaido. Na foto acima estão plantando árvores: Angela Merkel (chanceler da Alemanha); George W. Bush (presidente dos Estados Unidos); Yasuo Fukuda (primeiro-ministro do Japão); Nocolás Sarkozy (presidente da França) e Medvedev (presidente da Rússia).

A questão é: será que esses países ainda representam o planeta todo numa discussão sobre preços dos alimentos, aquecimento global e preço do petróleo? Fazem parte do G8: Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Itália, Canadá, Reino Unido e a Rússia. Em termos de PIB, esses países representam 58% do planeta, fatia que vem diminuindo nos últimos anos. Mas será que uma reunião dessas sem a participação de países como China, Índia e Brasil, grandes países em termos de território, que juntos detém quase metade da população do planeta e emitem quantidades consideráveis de carbono é justa? Ou mesmo sem a participação de algum país árabe ou africano, para darem seus pareceres sobre o preço do petróleo e dos alimentos, é factível?

Nos últimos anos, algum desses países, como Brasil, China e Índia participam dessa reunião, mas apenas como convidados e numa reunião secundária. O presidente da França já se posicionou favorável ao aumento do grupo, mas encontra resistências nos líderes da Itália e dos Estados Unidos.

É um paradoxo interessante. O Conselho de Segurança da ONU, formado por 5 países com poder de veto, ou seja, os mais importantes do mundo (basicamente os vencedores da Segunda Guerra), são: Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China. A China não está no G8, assim como o Japão e Alemanha, segundo e quarto PIBs do mundo respectivamente, não estão no Conselho de Segurança como membro permanente. A China veta o Japão na ONU, o Japão veta a China no G8, já que são inimigos históricos. A Rússia pertence a ambos os grupos, mas não é mais rica que Brasil e China, por exemplo. Outros argumentam que o G8 é um grupo democrático, por isso não querem que a China entre, mas a Rússia não é um exemplo de democracia. O Canadá, não é mais rico que a China e se formos levar em conta o PIB per capita, muitos países da Europa ultrapassam o Canadá no quesito. Pode-se levar em conta também o poderio militar, para explicar o Rússia em ambos os grupos ainda hoje, mas a China nuclear tem o maior exército do mundo e o Japão e Canadá não tem lá uma força militar relevante.

E assim criam-se outros grupos por fora para forçar uma reforma nos clubinhos: o G4 é formado por Japão, Alemanha, Brasil e Índia, e almejam uma vaga permanente na ONU; o G5 é formado por China, Índia, Brasil, África do Sul e México, e querem transformar o G8 em G13, e assim participarem mais ativamente das reuniões anuais do grupo.

O fato é que as instituições hoje precisam de reformulações para acompanhar as mudanças que aconteceram no mundo nas últimas décadas. Quem tem o poder não quer dividir com mais pessoas e demora até se convencer que o jogo político e econômico não é imutável. Ou parafraseando Heráclito, nada é permanente, exceto a mudança.

quarta-feira, julho 02, 2008

CDB lidera primeiro semestre

Fechando alguns números do primeiro semestre como balança comercial e câmbio, tivemos o ranking dos maiores rendimentos de aplicações no primeiro semestre. O campeão foi o CDB ou Certificado de Depósito Bancário, com aumento de 5,44%. O restante ficou:

-Certificado de Depósito Interbancário (CDI) -> 5,40%
-Poupança -> 3,50%
-Ibovespa -> 1,77%
-Ouro -> -2,07%
-Euro -> -3,92%
-Dólar -> -10,13%

Quem diria que a velha e boa poupança ficou na frente da bolsa, hein? E a persistência da desvalorização do Dólar continuou, o que traz cada vez mais preocupações com a nossa conta corrente. No mais, o começo do ano foi bastante penoso para as bolsas, e junho também não foi bom, mesmo com o grau de investimento em abril/maio das agências. A crise americana ainda é uma ameaça batendo às portas e a inflação dos alimentos e o petróleo estão em momento de alta, o que leva à certas incertezas.

O que se vê no horizonte pra curto prazo é a continuação do aumento dos juros. O Brasil ainda aumentará seu superávit primário, o que, juntamente com crescimento dos juros, pode levar o país à desaceleração mais forte em 2009.

sexta-feira, junho 27, 2008

Abraço partido


Essa semana morreu dona Ruth Cardoso, ex-primeira dama brasileira. Além de um episódio triste, por ser muito querida, o fato acabou aproximando o ex-presidente FHC e Lula. Vou transcrever um artigo interessante da Eliane Cantanhêde, que foi publicado hoje na Folha, que exprime um pouco o que os dois representam pra história recente do Brasil.

O abraço

Mortes quase sempre geram muita tristeza, tréguas e pausas para pensar, mesmo nas mais conflagradas famílias. Foi o que a morte de Ruth Cardoso produziu, deixando como marca uma foto emocionante sob o ponto de vista humano e emblemática sob o político: a do abraço, em lágrimas, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

Um abraço de velhos companheiros, não de atuais adversários, e que não vai mudar a política em nada (principalmente diante das eleições municipais), mas mexeu com corações endurecidos e partidarismos inflexíveis no PT e no PSDB.

Aliados nos tempos do inimigo comum, a ditadura militar, FHC, Lula e seus respectivos grupos e partidos se distanciaram basicamente por diferenças de táticas políticas e de estratégia, aprofundadas ao longo do tempo pela disputa de poder. De aliados passaram a adversários e chegaram a inimigos, capazes de se ferirem cruelmente.

FHC e Lula são o que há de melhor na política brasileira, pela capacidade intelectual de um, a perspicácia do outro, a liderança e a excepcionalidade de ambos. FHC fincou as bases em praticamente todas as áreas para um país muito melhor do que encontrara oito anos antes. Lula pegou o bonde e acelerou.

Os avanços na economia e na gestão, porém, não refletiram em melhorias na prática política nem no refluxo nos escândalos. Os dois, entrincheirados em seus partidos e reféns de suas alianças, conviveram com erros bem parecidos. Mas é justamente por esses erros que se matam uns aos outros. O sujo falando do mal lavado. A diferença é que Lula e os petistas foram implacáveis contra FHC e os tucanos no poder, mas não suportam provar do próprio veneno. Virou uma guerra.

E, se o Brasil bateu no seu teto político com FHC e Lula, o que virá depois? A foto do abraço, tão forte, contundente, remete ao passado, mas não projeta o futuro.

quarta-feira, junho 18, 2008

Noção de valor

Em economia, além de inúmeras outras coisas, estudamos o que é o "valor" das coisas. Mesmo com divergências, em poucas palavras, "valor" é o que um determinado "bem" irá proporcionar ao indivíduo; o valor mede a "utilidade" do mesmo. Temos vários tipos de valores:

-Valor de uso : É o nível de uso que um bem ou serviço tem no uso pessoal e cotidiano da pessoa;

-Valor de troca : É o nível que um bem alcança, sendo de importância baixa ou considerável.;

-Teoria de valor trabalho: O valor de um bem é determinado pelo trabalho e tempo gasto para produzí-lo;

-Teoria de valor utilidade : O valor de um bem é nivelado pela utilidade que o mesmo oferece, o que é subjetivo, pois varia conforme a percepção de cada um.

Por que eu tô falando tudo isso? Quando temos períodos de prosperidade econômica, me parece que perdemos um pouco a noção de valor. O maior ganho acaba fazendo com que as pessoas paguem o preço que for daquilo que consideram útil para satisfazer seus anseios. Quantas vezes já não nos espantamos ao passarmos na frente da vitrine de uma loja de roupa famosa? E se tivêssemos dinheiro pra comprar, será que nos espantaríamos mesmo assim?

Semana passada, o banco Santander fez o maior negócio imobiliário já fechado no país. O grupo WTorre vendeu o edifício Torre São Paulo, mais conhecido como o antigo esqueleto da Eletropaulo, localizado ao lado da ponte Cidade Jardim, por R$ 1,06 bilhão. Isso significa algo em torno de R$ 13 mil o m². Repetindo, R$ 13 mil o m².

Quando acho que já me espantei com tudo, vem a notícia hoje da venda do flat mais caro da Ásia, localizado em Hong Kong (foto). O m² foi calculado em US$ 56 mil. Eu disse Dólares, perfazendo um total de cerca de US$ 28,8 milhões. Com 511 m² de área total, o flat está no 80º andar do edifício e conta com uma piscina privativa.

Ou seja, cada metro quadrado do flat daria para comprar um apartamento pequeno em São Paulo numa área não tão bem localizada, mas mesmo assim um apartamento. Com o dinheiro total, mais de 500 apartamentos. E assim, as coisas acabam não tendo limites.

sexta-feira, junho 13, 2008

Setor de petróleo bombando

Não, não estou falando do Oriente Médio, estou falando daqui mesmo. Virou rotina agora a Petrobras anunciar descoberta de reserva de petróleo toda semana. Ontem mesmo anunciaram que encontraram óleo leve (de melhor qualidade) no campo de Guará, ao lado de Tupi. E dá-lhe nomes indígenas. Estima-se que o pré-sal brasileiro tenha cerca de 70 bilhões de barris, o que faria o Brasil figurar lá por volta do oitavo maior país com reservas. Notícia animadora com um barril a quase US$ 140.

Agitando ainda mais o mercado, hoje teve a estréia na bolsa da OGX, empresa do empresário showman Eike Batista, que acabou sendo o maior IPO da história do país (R$ 6,71 bilhões), ultrapassando a estréia da própria Bovespa Holding, que havia sido de R$ 6,6 bilhões. Dono da EBX, de mineração e energia, Eike é um personagem peculiar do empresariado brasileiro. Conhecido anteriormente como ex de Luma de Oliveira, multiplicou seu patrimônio em pouco tempo e hoje pode ser considerado o homem mais rico do país. Criou a OGX só para entrar no leilão no fim do ano passado da Agência Nacional do Petróleo e acabou sendo a estrela, ofuscando a Petrobras.

Ontem também foi apresentado ao público a Quattor, com direito até a propagandas em horário nobre na TV, cujos donos são: Unipar com 60% do capital votante, Petrobras com 31,9% e a Petroquisa com 8,1%. A empresa já nasce com faturamento de R$ 9 bilhões, com o intuito de competir em escala mundial.

E pra finalizar, como a grande estrela nacional no setor é a Petrobras, ela ganhou uma reportagem essa semana no Le Monde com o título "Expansão da Petrobras está apenas começando".

E o mais hilário disso tudo é que tudo acontece num país que está tentando de todas as maneiras vender ao mundo o etanol, combustíveis mais limpo e renovável, para substituir/diminuir a utilização do petróleo.

terça-feira, junho 10, 2008

Brasil cresce 5,8% no 1T

O IBGE acabou de divulgar o resultado do primeiro trimestre. Na comparação com o primeiro trimestre de 2007, o PIB cresceu 5,8%. Em 12 meses, o país também cresceu 5,8%. Como nosso PIB fechou 2007 em 5,4%, isso significa que o país acelerou no início do ano.

Abrindo os dados por segmentos, o consumo das famílias cresceu 6,6% em relação a igual período de 2007. De acordo com o IBGE, foi a 18ª vez seguida em que esse item apresentou expansão, na comparação entre um trimestre e seu equivalente do ano anterior. A elevação da massa salarial dos trabalhadores e o aumento do crédito foi responsável por isso.

A formação bruta de capital fixo - uma medida dos investimentos na economia - cresceu animadores 15,2%, demonstrando que o país está sim aumentando e muito a oferta geral pra evitar maior pressão da inflação. Com isso, a taxa de investimento atingiu valor equivalente a 18,3% do PIB, o melhor primeiro trimestre desde 2000, quando essa relação estava em 19,1%, ou seja, crescimento de qualidade.

Abrindo pelo lado da oferta, a indústria obteve o melhor desempenho com uma taxa positiva de 6,9% (puxada pela indústria automobilística), seguida pelos serviços, item de maior peso, com elevação de 5,0%, e agropecuária com crescimento de 2,4% na comparação com o mesmo trimestre de 2007.

O Brasil não cresce a taxas acima de 5% por dois anos consecutivos desde 1985/1986, quando o crescimento foi de 7,9% e 7,5% respectivamente, ou seja, mais de 20 anos. É esperar pra ver como o segundo trimestre se sairá.

segunda-feira, junho 09, 2008

Semana agitada

Compasso de espera. Amanhã o IBGE divulga o PIB brasileiro do primeiro trimestre. Provavelmente estaremos crescendo acima de 5% ainda, mas vamos ver. A produção industrial acumulou em 12 meses, alta de 6,6% até março, o que pode ter refletido em boa atividade econômica.

Quarta-feira será divulgada a inflação de maio. Vamos ver se os alimentos continuam fazendo estrago no índice, agora que parece que houve uma generalização de aumento na cadeia produtiva, causado também pela alta do petróleo.

Essa semana também está previsto que o Banco Mundial solte suas projeções de crescimento mundial, abrindo por países. Brasil deve aparecer crescendo este ano mais que a média do mundo.

É esperar pra ver.

quarta-feira, junho 04, 2008

Reservas perto dos US$ 200 bilhões














O Brasil está se aproximando para atingir uma marca histórica em suas contas. As reservas brasileiras estão prestes a ultrapassar os US$ 200 bilhões.

A importância de uma boa reserva pode ser verificada no que está acontecendo hoje em dia. O mundo passa por uma crise séria, com desaceleração americana (os Estados Unidos equivalem a 27% do PIB do mundo), subida dos preços do petróleo e aumento dos alimentos. O primeiro impacto que ocorre em países desprotegidos ou mais vulneráveis em épocas assim é a crise cambial. Vide o passado recente brasileiro. E o que estamos verificando no Brasil é um câmbio comportado, muito por conta dessa reserva que fez o país ser credor externo.

Embora seja uma ótima notícia, não nos esqueçamos que parte do dinheiro que está aportado aqui pode mudar de humor e fazer com que o governo tenha que usar parte das reservas. Vide o caso de 1999, quando houve a liberação cambial e mais de US$ 20 bilhões evaporaram na tentativa de segurar a alta do câmbio. É por isso que uma das principais vantagens do Grau de Investimento (conseguido pelo país pela S&P e Fitch) é trazer ao país dinheiro de mais longo prazo e seguro.

Mas por enquanto podemos respirar, já que os juros reais aqui continuam a ser um dos maiores do mundo. Uma anomalia da nossa economia que vai ficar ainda maior hoje, com a 4º reunião do ano do Copom.

quinta-feira, maio 29, 2008

Livre mercado?

Gente, é impressionante como as opiniões mudam quando os papéis são invertidos. Os Estados Unidos eram até pouco tempo (ou dizem que continuam sendo) o baluarte do livre mercado, do neoliberalismo ou como quer que chamem isso.

Pois bem, três fato curiosos sobre essa questão com relação ao Brasil. O primeiro é a insistência em mantêr barreiras contra o etanol daqui. Como eles não querem perder a tecnologia do combustível verde, acabam evitando a entrada do etanol brasileiro de cana e incentivando o de milho deles, um dos responsáveis pela alta dos preços no mundo atualmente.

Segundo fato, durante a campanha presidencial, a HillaryClinton afirmou, em Dakota do Sul, que era contra a aquisição da Smithfield Foods pela brasileira JBS-Friboi. E disse que, se fosse presidente, aproveitaria as brechas da legislação agrícola para vetar a venda para a empresa brasileira, que depois de comprar a Swift nos Estados Unidos, se transformou na maior exportadora de carne do mundo. Hillary é contra a consolidação porque os Estados Unidos estão perdendo espaço no mercado global de carnes. Desde 2003, as exportações de carne dos EUA despencaram e enquanto disso a brasileira Friboi se transformou na maior empresa de carne bovina do mundo.

O terceiro fato se deu ontem no Wall Street Journal, sobre a possível compra do "ícone americano" Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser, pela Inbev, dizendo que os "políticos americanos devem resistir à invasão em ano eleitoral." Na reportagem, o jornal diz que a empresa é "administrada por brasileiros" e compara os dirigentes com "técnicos de futebol", e que o clima lá na empresa lembrava um vestiário, comentando que os "brasileiros valentões" viraram a mesa e passaram a perna no comando belga da empresa. Haja argumentos!

quarta-feira, maio 28, 2008

Sobre impostos e gargalos

Ontem eu tava vendo algumas manifestações por conta da carga alta de impostos que o Brasil tem. Reinauguração do novo "impostômetro" na Associação Comercial de São Paulo (para colocar a casa do trilhão de reais) e protestos em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, que vendiam produtos sem a incidência de imposto.

Me chamou atenção um exemplo ocorrido no sul: estavam vendendo o carro mais barato do Brasil, um Fiat Uno, por cerca de R$ 14 mil, em vez dos cerca de R$ 21 mil que custaria normalmente, assim como TVs de plasma, gasolina, etc.

Sem entrar no mérito sobre o destino do dinheiro de impostos (e assumindo que sim, o brasileiro paga muito imposto), será que essa carga toda não acaba sendo benéfica de certo modo?

Explico: imaginem se os carros mais baratos estivessem custando R$ 14 mil, a explosão de vendas que isso não iria dar. Aumento de vendas, aumento de preços (já que a indústria não conseguiria acompanhar o aumento da demanda) e alta nos congestionamentos, já que a estrutura das cidades não comporta tanto carro e o transporte público não é lá essas coisas.

A propensão dos brasileiros ao consumo é muito alta, na esteira do desejo de refletir aqui os mesmos padrões de consumo de países desenvolvidos, cuja renda per capita é superior à nossa (e por conseguinte, o mercado de falsificações aqui é bem rentável). Portanto, será que os impostos não estão brecando um maior consumo, frente à uma oferta que cresce mais lentamente, e assim evita inflação?

Lembrem-se que nos anos 80, o Cruzado jogou milhões de brasileiros no mercado de consumo e deu no que deu: falta de alimentos e inflação descontrolada. O Plano Real deu certo porque juntamente com o poder de compra, no primeiro momento o governo pareou o real com o dólar e assim nossa demanda desenfreada foi suprida com importações também, o que arrebentou nossa conta corrente, e posteriormente com a liberação cambial em 99, torrou quase todas as nossas reservas cambiais.

Portanto, as coisas precisam ser feitas com cuidado, lentamente, evitando descompasso entre a fúria gastadora dos brasileiros e a oferta para suprí-la.

quarta-feira, maio 21, 2008

quinta-feira, maio 15, 2008

Sobre etanol e inflação

Etanol, etanol e etanol. O mundo parece ter acordado pra uma questão que faz parte da nossa realidade, no mínimo, há trinta anos. Desde o começo da crise alimentar e da comoção com o aquecimento global, não passa um dia sequer sem que não haja um artigo em algum jornal importante do mundo que fale sobre o etanol brasileiro e o programa de bicombustível daqui.

Ontem foi lançado um relatório do Conselho para Relações Exteriores de Nova York, dizendo sobre o novo momento da América Latina e que terminou a era hegemonica dos Estados Unidos por aqui. Além disso, cita a necessidade de cooperação mútua entre os países, em especial com o Brasil e seu etanol. Este também foi um dos principais assuntos da visita da chanceler alemã Angela Merkel ao país, a primeira visita sua à América Latina, onde posteriormente participará da 5ª Cúpula União Européia-América Latina em Lima, no Peru. A saída da ministra Marina Silva (que fará muita falta) deve produzir mais notícias sobre isso, especialmente por ter sido dura nas suas convicções sobre a compatibilidade entre crescimento econômico e proteção do meio ambiente. Qualquer motivo é motivo pros europeus/americanos barrarem a entrada do etanol (e outros produtos agrícolas) em seus países e a aparente fragilidade do Ministério pode se reverter em ônus para o governo.

Em outras notícias, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, não estava brincando quando disse que fará de tudo pra inflação não sair da meta. Além de aumentar os juros dia 16 de abril e reduzir o imposto dos combustíveis para que não houvesse repasse aos consumidores, dessa vez foi anunciado pelo governo a isenção da cobrança de Pis/Cofins até o final do ano na comercialização de trigo, de farinha de trigo e do pão francês, procurando atenuar as elevações de preços desses produtos que têm pressionado a inflação. Se temos impostos acachapantes, que se reduza quando há pressão de preços.

A boa notícia do dia, no entanto, veio da FAO, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, que segundo seu índice de preços de inflação mundial dos alimentos, estava ensaiando uma estabilização. Em abril, o índice caiu depois de 15 meses em alta, especialmente por conta de queda dos preços do arroz, trigo e laticínios.

terça-feira, maio 13, 2008

BRIC torna-se realidade

E finalmente os BRICs, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China vai sair do papel e, quem sabe, se tornar um grupo político, apesar da expressão ter sido cunhada, pela primeira vez, por um agente privado, um banco de investimentos (Goldman Sachs).

Essa semana, em Moscou, haverá um encontro de chanceleres dos quatro países, exclusivamente com foco em economia, para posteriormente, iniciarem um diálogo mais estreito e estabelecerem formas de cooperação em áreas como energia, meio ambiente e comércio.

É esperar pra ver se haverá algum resultado prático e o grau de repercussão da imprensa mundial, especialmente a americana e européia.

segunda-feira, maio 12, 2008

Era não-polar

Não, não estou me referindo ao aquecimento global, e sim, à uma entrevista de um dos principais analistas de política externa dos Estados Unidos, Richard Haass, na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo.

Nela, Haass expõe o fato de que o mundo caminha para um sistema de não-polaridade, ou seja, não haverá um país dominando o mundo, ou dois, como na época da Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética. E vai além: comenta sobre os atores não-estatis, que também teriam sua parcela na divisão do poder mundial, como o grupo terrorista Al Qaeda, o braço de investimentos de Abu Dhabi (que criou um fundo com o dinheiro do petróleo e está comprando participações em inúmeras empresas ao redor do mundo), grandes corporações, etc. Selecionei algumas partes que achei interessante:

FOLHA - O que levou ao que o sr. chama de Era da Não-Polaridade?
RICHARD N. HAASS - Era inevitável que alguns Estados ficassem mais eficientes e mais produtivos e, conforme isso aconteceu, esses Estados acumularam muita riqueza. Estamos vendo isso acontecer na Índia, na China, no Brasil. Com o tempo, a força econômica acaba sendo traduzida para outras formas de poder e influência. Isso é o primeiro fator. O segundo é a globalização, que dilui e enfraquece o poder de algumas nações, pois, por conta dela há muitos aspectos do mundo que os países não podem controlar. Ela torna possível que os atores não-estatais tenham mais acesso a recursos, o que tanto reflete quanto contribui para a não-polaridade. Por último, os EUA aceleraram o surgimento dessa nova era da história por conta de alguns erros que cometeram em suas políticas interna e externa. A decisão de ir à guerra no Iraque, a falta de compreensão da política energética, o gerenciamento da economia do país, todos esses problemas se juntaram e viraram um grande problema que enfraqueceu o país. Assim, foi a combinação de problemas estruturais, históricos e políticos levou o país e o mundo a essa nova era.

(...)

FOLHA - E o papel do Brasil e, num sentido mais abrangente, dos BRICs (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China) e de outras economias emergentes?
HAASS - Países como o Brasil terão cada vez mais importância nesse novo mundo. Não são mais simplesmente potências regionais, mas globais. O Brasil, por exemplo, será central na hora de resolver o problema das mudanças climáticas e na questão do comércio exterior. Será fundamental nas ações para promover a ordem na América Latina. É o país potencialmente mais importante como parceiro dos EUA na questão de construir instituições regionais e agir em respostas rápidas aos desafios locais.

FOLHA - Há muitas teorias que dizem que os EUA estão em declínio e que a China seria a próxima superpotência. Por que o sr. discorda dessa tese?
HAASS - Os EUA são e vão continuar sendo a economia mais forte do mundo, de maior poderio militar, nesse caso ainda maior do que hoje. O que vai acontecer é que outros países também vão ficar mais poderosos. A posição dos EUA em relação aos outros pode cair, mas não sua força absoluta. Também não acredito numa "troca de guarda" de elenco na mesma peça do mundo unipolar, com a China ou outro país qualquer tomando o lugar dos EUA. Entramos em uma nova era da história, em que nenhum país poderá dominar o resto do mundo. Nem os EUA, nem a China, nem a Índia, nem a Rússia, nem o Japão, nem a Europa, nem o Brasil. O mundo de hoje não será dominado por nenhuma força única.

Não deixa de ser uma visão interessante sobre o que está em curso hoje no mundo, fazendo um pararelo com meu post do dia 06/05, onde comentei sobre o mundo pós- americanismo. No caso, aqui há elementos novos, como os atores não-estatais e também sobre a eqüidade maior do poder das nações.

sexta-feira, maio 09, 2008

Alimentos, alimentos

Hoje o IBGE divulgou a inflação de abril, e como era esperado, o índice acabou acelerando na passagem de março: de 0,48% para 0,55%. Culpa principalmente dos alimentos, que responderam por 0,28% do índice, ou seja, praticamente a metade.

De março para abril, vários produtos apresentaram alta: pão francês (+7,33%), farinha (+6,80%), pão doce (+3,02%), macarrão (+2,34%), pão de forma (+1,12%), cebola (+15,87%), leite pasteurizado (+3,56%), óleo de soja (+3,18%), arroz (+1,96%), carnes (+1,35%), entre outros. Tendência que deve permanecer ainda por algum tempo. Por outro lado, o feijão carioca levou um tombo de quase 11,0% no preço, demonstrando que quando há normalidade de safra e ajuste com a demanda, os preços tendem a se acomodar.

O momento é de sangue frio, porque a inflação dos alimentos é um fenômeno mundial. Fora que o petróleo também está contribuindo bastante, como já comentei aqui e não pára de subir. A notícia boa de abril é que os produtos não-alimentícios apresentaram variação de 0,34%, um pouco abaixo do resultado de março (0,36%), ou seja, comportado. Mesmo assim, o acumulado em 12 meses já fez com que o índice de inflação passasse dos 5,0%, o que não víamos há algum tempo. E dá-lhe Brasil colhendo safra recorde de grãos.

quinta-feira, maio 08, 2008

Indústria crescendo qualitativamente

Em meio às previsões catastróficas de aumento da inflação por conta não só dos alimentos, mas também da energia e dos minerais, junto com a demanda interna aquecida do país, a divulgação do resultado da indústria, antes de ontem, trouxe um pequeno alívio pra dinâmica do crescimento do setor.

No primeiro trimestre, a produção industrial teve aumento de 6,3%, número nem um pouco desprezível. No acumulado em 12 meses, a indústria obteve expansão de 6,6%. Mais importante que a magnitude da alta é analisarmos que o setor de bens de capital está respondendo positivamente ao momento que o país passa.

Bens de capital é o setor que aumenta a capacidade produtiva do país. Máquinas produzindo novas máquinas para expansão de fábricas, por exemplo. Apesar do peso maior da indústria ser do setor intermediário, é em bens de capital que mora a gênese da ampliação da oferta que mais tarde impede aumento de preços por conta do aumento da demanda.

O setor cresceu 17,1% no primeiro trimestre e quase 20,0% no acumulado em 12 meses, números compatíveis com a época do Milagre Econômico, apesar de estarmos falando em épocas distintas. Abaixo, eu coloquei um gráfico das expansões em 12 meses dos segmentos que fazem parte da indústria:

terça-feira, maio 06, 2008

The Rise of the Rest

Eu ainda não comentei nada sobre os BRICs aqui. Então vamos à eles. BRIC é uma expressão cunhada pela primeira vez através do Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimento do mundo, para denominar os principais países emergentes do mundo. A expressão faz uma analogia à brick, tijolo, como se estivesse sendo construída uma espécie de nova ordem mundial. Os países são, por conta da primeira letra do nome: Brasil, Rússia, Índia e China.

Estima-se que por volta de 2050, os BRICs já seriam as maiores potências econômicas do mundo, ultrapassando assim a União Européia e os Estados Unidos. A força econômica e a população dos quatro países somadas justificariam isso, já que o ganho de escala desses países é gigantesco.

Entrei nesse detalhe porque a Newsweek abre a semana com uma reportagem interessante sobre o mundo pós-americano, com o título The Rise of the Rest (a ascensão do resto), sendo por resto entendendo-se como os BRICs, os "verdadeiros gigantes". A reportagem está aberta no site da revista.

É estranho pensar que o Brasil, sempre renegado à um rodapé da história, pelo menos até meados do século passado, de repente está virando um ator global de peso, especialmente nas questões agrícolas. E pra massagear o ego ainda mais, ontem na campanha presidencial americana, Hillary Clinton citou o Brasil como exemplo a ser seguido de país que conquistou sua auto-suficiência energética. O futuro está chegando?

segunda-feira, maio 05, 2008

Mensagem do dia

Da série "se arrependimento matasse":

Eu tinha uma visão atrasada sobre a economia brasileira porque os países latinos-americanos, de maneira geral, têm uma fama ruim em relação à estabilidade de suas moedas. Mas o mundo muda e o Brasil mudou.

WARREN BUFFETT, homem mais rico do mundo pela Forbes

sexta-feira, maio 02, 2008

Combustíveis aumentam

Eu acho muito hilário quando há aumento dos combustíveis e os repórteres vão entrevistar pessoas na rua. Os próprios repórteres fazem cara de cocô quando dão a notícia e os entrevistados falam coisas como: "é, sempre nós que pagamos", etc.

O negócio é que sim, teria que ter aumento de qualquer maneira, e nem teríamos o direito de ficar reclamando. O último reajuste nos combustíveis tinha sido em setembro de 2005 e o barril do petróleo estava com um preço bem abaixo do que está hoje. A apreciação do Real durante esse tempo conseguiu aliviar um pouco a escalada do barril lá fora, mas é fato que os preços aqui dentro estavam bastante defasados.

O impacto na inflação é importante, porque praticamente toda a cadeia têm os combustíveis como parte dos custos, mas mesmo assim, não havia muito o que se fazer. O máximo que o governo pôde foi diminuir o imposto da CIDE que cobra na gasolina, para tentar anular os repasses ao consumidor.

No mais, a Petrobras estava com dificuldades de ganho por conta dessa defasagem. E a empresa não se pode dar ao luxo disso, porque afinal, é uma companhia com acionistas e que tem que dar lucro e se capitalizar para os desafios que estão pra vir, como por exemplo explorar o petróleo e o gás em águas ultra profundas dos campos de Tupi, Júpiter e Carioca.

Portanto, acho importante ficar bem explicado pra população dos por quês em vez de acharem que sempre são os coitadinhos que pagam as contas de tudo.

quarta-feira, abril 30, 2008

Brasil vira grau de investimento

E não é que a nossa grande pátria desimportante acabou de virar Grau de Investimento? E que por** seria essa?, perguntaria alguns.

As notas de classificações dos países são dadas por agências que medem a capacidade de um país em arcar com seus compromissos, ou seja, a capacidade do país em pagar suas dívidas. Existem três grandes agências no mundo: a Standard & Poor's, a Fitch e a Moody's, e foi a primeira que hoje, concedeu ao Brasil a nota de Grau de Investimento, algo inédito na história do país.

Existem fundos de investimento que pelas suas regras, só podem investir em países que tenham esse selo. Fundos que protegem seus associados, procurando lugares que sejam rentáveis mas que sejam acima de tudo seguros. Calcula-se em cerca de US$ 25 trilhões em fundos de pensão que não podem investir no Brasil por conta do país não ser grau de investimento.

Além de mais Dólares entrando no país (1% desse valor que eu coloquei é mais do que as reservas brasileiras hoje), o governo e as empresas ganharão ainda mais acesso a crédito, em volumes sem precedentes e com taxas de juro similares às de países desenvolvidos, ou seja, teoricamente, haverá futuras reduções dos juros.

O país persegue essa classificação faz anos. Anos que está havendo uma política econômica capaz de transparecer confiança maior no país e assim, fazer com que ele seja seguro para investimento.

A ressalva

Gente, isso aí pegou todo mundo de surpresa, é fato. As contas do país estão caminhando para um déficit novamente, por causa da queda do saldo comercial e da valorização do Real. Além disso, estamos no meio de uma crise de crédito bem séria no mundo, por causa dos Estados Unidos. Ou seja, conjuntura bem bizarra pra um upgrade desse porte, nesse momento.

E países que possuem o Grau de Investimento não é garantia de crescimento sustentável, vide o México que já tinha e está crescendo pouco nos últimos anos. Fora que as reformas aqui precisam continuar, como a tributária, diminuição de burocracia, melhor educação, e por aí vai. Vamos torcer que essa confiança toda no nosso país se justifique.

Imposto de renda

Então que hoje é o último dia para a entrega da declaração do imposto de renda. Até aí até meu macaco albino sabe. Só que como todo ano, os brasileiros deixam para a última hora, como sempre. E sempre a mesma história: cai sistema, computador da Receita não agüenta, etc.

Então aqui vão duas dicas:

-Os contribuintes de última hora pode ganhar depois. É que o dinheiro da restituição demora mais pra sair quanto mais tarde você entregar sua declaração (há um grupo com vantagem de receber antes, como os mais idosos, por exemplo). E como o dinheiro da restituição é corrigido pela taxa SELIC (que na última reunião do dia 16 de abril foi para 11,75% a.a.) sem taxa administrativa nenhuma, seria então uma das melhores aplicações para se fazer. Ou seja, se você está querendo esse dinheiro logo, a espera vai ser até que recompensada;

-Mesmo faltando algum recibo, entregue logo. Ela entrando no sistema, você pode retificar a declaração depois. Afinal, ninguém quer pagar multa de R$ 165,74 no mínimo.

Em outras notícias, eu achei onde liberar os comentários, para anônimos inclusive, e como converter o idioma para português!

terça-feira, abril 29, 2008

Faz parar?


E o preço do petróleo que resolveu não querer mais parar de subir? Eu faço previsões sobre preço do barril Brent (cotado em Londres) e essa escalada já me fez revisar umas 3 vezes o preço médio desde dezembro do ano passado.

Olhando o gráfico, fica até mais fácil de mensurar a magnitude dessa alta: em 2002, o preço médio havia ficado em US$ 25 o barril Brent. Em 2007, média de US$ 72,6 ou seja, quase triplicou de preço. Essa semana, estava cotado acima de US$ 115!

O mundo tenta achar uma razão pra isso, já que não há indícios de que esteja havendo uma diferença tão grande assim entre a demanda e a oferta. Quer dizer, a demanda pelo óleo cresceu nesses últimos anos, já que a média de crescimento econômico do mundo também foi alta. Mas mesmo com as recentes notícias de recessão nos EUA (que consomem 25% do petróleo do mundo), que teoricamente jogariam o preço pra baixo, não abalou a trajetória de alta.

Além da velha desculpa da demanda alta e de problemas geopolíticos nas regiões produtoras (guerras, atentados, terrorismo, *bocejo*), dessa vez, com o Dólar enfraquecendo, os agentes estão apostando mais do que em outros tempos em derivativos com lastro no petróleo: há então um forte componente especulativo nisso tudo. E estão forçando pra ver até onde podem ir. Pior que como o petróleo é a matriz mãe do planeta, esse aumento de preços acaba se espalhando. Até nos alimentos, que utilizam de produtos derivados do óleo, como fertilizantes e combustível para máquinas agrícolas.

Acho que com a chegada do verão no Hemisfério Norte e a desaceleração da economia dos EUA, o preço tende a cair no próximo trimestre. Mas é uma aposta minha. Esse preço maluco já provou que foge de qualquer tipo de previsão.

segunda-feira, abril 28, 2008

Enxugando gelo

Aproveitando o gancho com o lance da inflação dos alimentos, tomou forma no mercado uma discussão desde semana retrasada, sobre a atuação do BC com relação aos juros. O BC sempre é criticado por manter os juros brasileiros nas alturas. Temos o maior juro real do mundo para controlar nossa inflação. Porém, o BC é visto como o grande fiador da estabilidade brasileira.

É até compreensível todo esse zelo porque o país sofreu demais com o aumento dos preços especialmente nos anos 80. Porém, a subida dos juros de 11,25% a.a. para 11,75% a.a. ocorrida dia 16 de abril é bastante discutível.

De acordo com o BC, a demanda do país está aquecida e o aumento dos juros foi para controlar o descompasso entre oferta e demanda. Além disso, comentaram sobre a inflação dos alimentos.

Mas aí eu pergunto: que por** de inflação de demanda é essa que eles tanto tão falando?? Que o país está crescendo acima de 5% e que a demanda está aquecida é fato. O negócio é que a oferta está conseguindo acompanhar. É só pegarmos os índices do IBGE de alguns setores da economia para vermos isso. Além disso, dados da indústria, com relação à estoque e capacidade ociosa estão dentro da normalidade.

Ou seja, só porque está havendo aumento dos alimentos, o BC acha que aumentando o juros irá resolver a questão (ninguém vai parar de comer). A questão é que a meta do BC é de inflação em 4,5%, com tolerância de 2 p.p. pra cima ou pra baixo. E o BC não usa a própria banda que estipulou. A inflação tem que voltar ao centro da meta de qualquer maneira, mesmo que para isso reduza a atividade econômica que está caminhando tão bem e desvie a causa do problema para o "demanda aquecida".

Esperemos então, novos aumentos de juros por parte do BC pra tentar controlar algo que está acontecendo no planeta todo e assim, permanecer enxugando gelo pelo menos até a situação dos alimentos no mundo se acalmar.

sexta-feira, abril 25, 2008

A inflação dos alimentos

E essa história toda da subida de preço dos alimentos? Gerou até declaração polêmica do relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler, que disse que a subida estava relacionada à produção de biocombustíveis e os chamou de "crime contra a humanidade".

O fato é que o mundo tá acordando pra uma questão que passa pelos subsídios dos países ricos. Eles sabem que caso abram o mercado, países como o Brasil, extremamente competitivo nessa área, iria devastar os empregos no campo dos países deles, em particular, os europeus. Além disso, traria incentivos à países tropicais em investir no campo pra poder competir com eles em alimentos.

Como a questão de liberalização está loooonge de ser discutida, acho que podemos analisar as causas desse aumento de preço dos alimentos. Primeiro, o crescimento da China e da Índia está fazendo o povo de lá comer mais. E que povo, já que os dois países, juntos, possuem mais de 2 bilhões de habitantes. A China teve uma crise séria no final do ano passado por causa da carne de porco (tiveram que sacrificar milhões por conta de uma doença). Isso fez com que o pessoal se direcionasse para outros alimentos, aumentando o preço deles. Segundo, o clima maluco fez com que muitas culturas tivessem quebras importantes de safra, especialmente o arroz (e o feijão, no caso brasileiro). Terceiro, a produção ineficiente de biocombustível por parte dos americanos e europeus, que utilizam o milho e a beterraba, fez com que o preço desses produtos subissem bastante. E quarto, a especulação dos agentes, que estão fugindo do Dólar fraco e indo para derivativos atrelados às commodities.

A inflação está subindo bastante ao redor do globo por conta disso. A China e o Japão, por exemplo, já estão com a maior inflação em, sei lá, uma década!

Contra essa inflação, os países estão agindo como podem. O sudeste asiático já proibiu exportação de arroz pra poder conter seus preços internos. O Brasil tomou decisão semelhante ontem: o estoque estratégico do governo não será exportado. O ponto é que os biocombustíveis podem sair com o grande vilão disso tudo, o que não seria justo. O Brasil tem que tomar uma posição firme contra isso, pra provar que o combustível derivado da cana é mais eficiente e não traria fome. Afinal, estamos nessa faz uns 30 anos e nunca tivemos problema dessa natureza.

Pra ilustrar isso tudo, coloco um gráfico do Índice da revista The Economist, que traz apenas produtos alimentícios. Reparem como a coisa toda começa a degringolar a partir do segundo semestre de 2007.

quinta-feira, abril 24, 2008

Teste e olás

Finalmente vou tentar escrever sobre economia e afins na net e permitir que minhas opiniões desinteressantes sejam compartilhadas por outras pessoas.


Então é isso!


E nada melhor do que começar com essa foto tirada ontem na posse do novo ministro do STJ:

O quarteto responsável pela tentativa de fazer o país voltar aos eixos depois do desastroso período 1964-1985 (faltando aí o Itamar). Uns com mais sorte que outros, mas que têm uma parcela do relativo sucesso que o Brasil está tendo hoje. Eu gosto de ver fotos assim, apesar de ter lido que houve algumas animosidades. Mas é política né, gente? O que há de se fazer. Ainda lembro do FHC passando a faixa ao Lula e ambos chorando, numa cena que não se via há tempos. Sim, um presidente eleito passando a faixa pra outro eleito. Nossa democracia está amadurecendo e estamos sendo espectadores disso.