sábado, outubro 11, 2008

O sobe e desce do Dólar

Em épocas de crise financeira como essa, é difícil arrumar algum assunto pra escrever aqui que não seja sobre isso. Ainda mais uma crise de proporções tão devastadoras como está sendo essa. Até o fim dessa semana, as empresas americanas já terão perdido US$ 7 trilhões em valor de mercado (quase 6 vezes o PIB brasileiro), e as empresas brasileiras, outros R$ 1 trilhão. São números tão grandes que são impossíveis de imaginarmos fisicamente.

A velocidade com que o dinheiro circula hoje no planeta e mais o processo de alavancagem faz surgir fortunas e sumir com elas numa piscar de olhos. Mas o que chama mais atenção desses dias é a escalada do Dólar no mundo todo, especialmente no Brasil.

A moeda americana terminou a semana em cerca de R$ 1,31. Até pouco tempo, ela testava o patamar de R$ 1,50 e se comentava sobre um tal fundo soberano para ser gestor da grana que estava sobrando.

O problema é que em crises, as pessoas perdem referências e bate o desespero. Assim, como ninguém sabe o que acontece, fogem pra lugares mais seguros. E os Estados Unidos continuam sendo o lugar mais seguro, por ser a maior economia do mundo e em último caso, se precisar, poder imprimir dinheiro, no caso, o Dólar.

Por isso, os agentes correm pra moeda americana, o que acaba desvalorizando as outras moedas, ou seja, não é um fenômeno apenas aqui. A questão é que pelo que estamos vendo, o Dólar não se sustentaria nesse patamar por muito tempo, por alguns motivos: o fluxo de Dólar em investimento continua entrando no país, ou seja, não há uma fuga gigante de dinheiro do Brasil; o Banco Central tem dinheiro suficiente para conter uma alta maior por conta das reservas; o Dólar mais alto breca as importações momentaneamente, o que acaba beneficiando nossa balança comercial (embora o efeito não seja tão imediato). É por isso que há a perspectiva da moeda americana cair nas próximas semanas. E o Dólar desvalorizado não é tão ruim assim: favorece as vendas externas do país lá fora e acabou por fazer o Banco Central ter um lucro de mais de US$ 6 bilhões já que o país zerou a dívida externa e passou a ser credor externo.

E por último, uma questão importante é que o sistema bancário do Brasil não está fragilizado como os estrangeiros. Aqui as regras são mais rígidas e o sistema de crédito imobiliário aqui é diferente dos Estados Unidos. Isso dá uma certa tranquilidade. É claro que vamos ser afetados por conta da restrição de crédito internacional e a queda da atividade econômica nos países, mas temos condição de mostrar a força do nosso mercado interno nesse momento, que desde 2003 tirou 20 milhões de pessoas da pobreza.